2012/03/03

Ciências, Técnicas e Maçonaria

Tradução livre do castelhano de um excerto do artigo “Ciências, Técnicas e Maçonaria” de Amando Hurtado, publicado na revista espanhola CULTURA MASONICA Nº 10, Jan. 2012.

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A Ciência é interpretada hoje – pela grande maioria das pessoas – não como um sistema teórico, mas como o conjunto das parcelas de conhecimento capazes de gerar aplicações técnicas socialmente úteis ( ou “rentáveis”), que se diluem no consumismo mercantilista.
A reflexão maçónica, perante este panorama, centra-se na busca pessoal do sentido que podemos dar à nossa própria vida enquanto membros da comunidade humana. Por ser humanista – ainda que sem situar o homem no centro do universo – e porque postula o trabalho como uma síntese de pensamento e acção, necessário à melhoria da condição humana, a Maçonaria envolve uma dimensão espiritual inseparável da sua própria natureza. Concebe o Homem como microcosmo, imagem do universo, com uma aspiração inata que o supera, que o transcende. Para além do mundo visível intui-se uma Arquitectura cósmica de que a humanidade faz parte e cujo código estrutural se torna gradualmente acessível através das ciências enquanto veículos do conhecimento.
A espiritualidade maçónica expressa-se na “busca da verdade”, simbolizada pela “Palavra Perdida”, identificável para muitos com a autêntica finalidade da Scientia de Philosophia Perenis, com o sentido que lhe atribui Karl Jaspers: apesar da grande variedade de escolas filosóficas e para além de todas as suas contradições e exclusões recíprocas como portadoras da “Verdade”, pontifica em toda a filosofia um “Uno” que nada contem mas em torno do qual gravitam os esforços filosóficos de todos os tempos como tema central de uma única e eterna Philopsophia Perennis.[*] O que implica também que os mesmos temas, intelectuais ou espirituais, podem ter diferentes aproximações e representações imaginárias e que a via para alcançar esse “Uno” universal não é exclusivamente místico-religiosa.
O permanente trabalho de busca exige uma praxis ética racional. A Maçonaria nasceu, evoluiu, e continuará evoluindo ao longo dos tempos, como projecto de fraternidade universal pioneiro na tomada de consciência da diversidade e da compatibilidade entre as culturas mundiais. Para a sua concretização, esse ideal de fraternidade terá de transcender os limites espaciais e temporais em que se cristalizou corporativamente no séc. XVIII, pois que o Homem é, como sublinha Jean-Marie Schaeffer, a cristalização genealógica instável de uma forma de vida em evolução.
A validade da metodologia simbolista maçónica perante os sucessivos reptos colocados pelas evoluções sócio-culturais afigura-se incontestável enquanto genuína expressão da Psychologia Perennis. Porém, a sua efectividade e alcance dependerão de que a nossa Ordem, como escola de uma Arte de viver em fraternidade, mantenha a sua própria capacidade evolutiva sem prejuízo da sua vocação iniciática, assimilando na sua didáctica ritualizada os valores essenciais dos conhecimentos que o buril inteligente vai criando.»


*[nota do obreiro deste blogue sobre Filosofia Pererne]
quem sou, de onde venho, para onde vou?
Visão ou intuição de muitos teólogos, místicos e filósofos espirituais de várias épocas, a Filosofia Perene é formada por pensamentos profundos e intemporais sobre as coisas e a vida. Sobre essa realidade os ensinamentos da Filosofia Perene afirmam que o universo não só está interligado e pulsando de vida como é multidimensional, e proclamam:
- A realidade ultima é composta pelo domínio físico (ou fenomenológico) e pelo domínio imaterial;
- os seres humanos existem nestes dois domínios e reflectem dos dois lados da realidade;
- os seres humanos possuem a capacidade de percepcionar a realidade imaterial e reconhecer a sua centelha espiritual mas essa capacidade de percepção encontra-se atrofiada, adormecida pela falta de uso;
- esta percepção é o objectivo maior (iluminação mística), e a sua busca é o bem maior (vivência espiritual) da existência humana.
Todos os grandes mensageiros espirituais e os mestres do misticismo declararam que o propósito da Humanidade é a reunião com o seu princípio criador. De acordo com os seguidores desta filosofia, podemos aceder ao reino espiritual através da meditação, dos rituais, e através de uma vida sagrada.