2016/10/23

O Marquês e os Jesuítas

O Marquês e os Jesuítas


Passou há pouco tempo na RTP Memória a série “O Processo dos Távoras”, em que o ministro de D. José, Sebastião de Carvalho e Melo (Conde de Oeiras e futuro Marquês de Pombal), é apresentado como um político injusto, um funcionário prepotente animado de sanha persecutória contra nobres e religiosos. E a série retrata a sua actuação contra os opositores, nomeadamente contra aqueles que são apresentados como os seus maiores adversários: A ordem jesuíta.

Ora, para além da nobreza caduca, refém do seu atavismo secular e da estagnação que representa, os jesuítas constituem o outro pólo desse imobilismo que resiste às reformas encetadas por Pombal na implementação de um singular modelo político de Despotismo Esclarecido que constituiu o seu consulado.

Sobre os jesuítas convém relembrar que embora esses homens cultos tenham desempenhado um papel importante na difusão da cultura e da ciência (no início do século XVII acompanharam alguns dos progressos astronómicos de Galileu e chegaram a apoiar e complementar as suas descobertas), em meados do século XVIII recuaram a uma cultura do passado distante, opondo-se às extraordinárias descobertas da última centúria. Tanto assim foi que, em 1746, o padre jesuíta José Veloso, reitor em Coimbra, proibiu o estudo de Descartes, Gassendi e Newton, entre outros, assim como «quaisquer conclusõis oppostas ao sistema de Aristoteles».

A Companhia de Jesus tinha passado à posição de obstrução do progresso científico mas a sociedade tinha-se transformado radicalmente, e o conflito explodiu em 1759, com a expulsão dos jesuítas de todo o território português.

Independentemente de outras razões, mais triviais, moverem o 1º Ministro de D. José – interesses comerciais familiares no Brasil, eventualmente causticados pelos jesuítas-, o facto é que Sebastião de Carvalho e Melo, talvez doutrinado na dinâmica e na política inglesa, que admirava,  protagonizou o corte com a inércia da fidalguia que não preconizava nem deixava florescer progressos idênticos ao que outras nações registavam.

Os jesuítas nunca foram esses destacados portadores dos ideais humanistas, que alguns lhes atribuem. Uma abordagem antropológica à missionação jesuíta no Brasil também é, disso, estudo bem revelador.


Com todos os erros que terá cometido no desempenho das suas funções, acrescentados pelas suas fraquezas e defeitos como pessoa, ainda assim Pombal reunirá um crédito de protagonismo benéfico para o Portugal dessa época, que os feitos da Companhia de Jesus e da nobreza coeva não terão logrado, sequer, imitar.

H.

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