2016/10/23

Reflexões de um aprendiz do Mundo

Reflexões de um aprendiz do Mundo

Definir o que é a Maçonaria não é fácil, para além daquelas definições que encontramos nos nossos catecismos e manuais. A razão para essa dificuldade reside no facto da Maçonaria não ser isto ou aquilo. A Maçonaria sente-se e vive-se, não se reduz a interpretações textuais (logo, sínteses superficiais que não revelam mais do que a forma sem tocar no conteúdo). Assim é a natureza da Maçonaria porque é sentida e vivida de forma diferente por cada Obr.˙. da Arte Real. Ora, descrever sentimentos e experiências pessoais é algo que depende do ponto de vista individual e da sensibilidade de cada um.

No entanto podemos dizer que a Maçonaria, para além daquelas concepções que já temos como adquiridas, é o caminho do equilíbrio entre a ciência e a espiritualidade, é um método de compreender a harmonia de todas as coisas na busca pela Verdade,  e é também a práctica do Amor Universal. É, pois, muito mais do que a evocação exaustiva do Lema (Justiça,  Verdade,  Honra, Progresso) e da Divisa da Ord:. (Liberdade, Igualdade, Fraternidade) que integra profusamente a práctica ritual - porventura numa evocação bastamente mecanizada e de sentido embotado pela repetição mas que em outros momentos devem ser interiorizados como valores, regras de capital importância para a vivência do quotidiano.

Que a mesma palavra pode ter valores e poderes diferentes consoante o momento e o contexto em que as aplicamos, isso já aprendemos; afinal de contas elas também transportam e potenciam energias fundamentais, assim como o silêncio e a meditação. Descobri que, quando realizamos a Cadeia de União, ao fechar os olhos me é mais fácil canalizar o meu pensamento e, espero, a inestimável energia espiritual, em benefício das pessoas que conheço - que vou fazendo desfilar na minha mente como se fosse uma fita de cinema. Talvez sem tanto sucesso, mas também vou tentando sentir a energia dos demais IIr:. em cadeia, canalizando-a para a mesma finalidade.

Eis o terreno virgem a explorar, a caminhada a percorrer por cada um de nós nesta fraternidade que dá pelo nome de Maçonaria, onde não existem gurus nem líderes infalíveis, pois não defendemos nenhum dogma religioso, nenhuma apostilha indefectível, nenhum modelo de realidade singular. Para o Maç.˙. o Mestre está dentro de si mesmo, e é seu dever procurar encontrá-lo.

Não buscamos o reconhecimento e a fama entre os seres nossos iguais. Após décadas de estudo, práticas, erros e acertos aprendemos e aceitamos ser indivíduos anónimos, sendo cada um de nós apenas mais um na multidão, sem reconhecimento ou distinção especial e sem nenhum engrandecimento social resultante dessa condição de ser Maç.˙..

A educação e instrução tradicionais não nos preparam para aceitar o facto de que quando um indivíduo se eleva, a sociedade humana, como um todo, também se eleva concomitantemente. Então, todo esse trabalho individual representa na verdade uma caminhada colectiva. A cada ser humano que tivermos o privilégio de tirar das trevas da ignorância, mais Luz é derramada sobre toda a realidade mundana.

Para muitos a Luz e o conhecimento significam independência, e esta independência é intolerável para os que acreditam ser superiores aos outros. Por esse motivo a Maçonaria continua a ser olhada com desconfiança e a ser desconsiderada, até atacada. Cada passo que damos na direcção da Verdade e do conhecimento, congrega mais inimigos contra nós. É, pois, uma caminhada de coragem e determinação.

Cada um de nós tem o poder de transformar a sua própria vida e a vida dos que nos estão próximos, com os nossos actos e exemplos. Afinal de contas de nada adiantaria que uma fraternidade orientada por tão altas aspirações nos oferecesse tais conhecimentos e práticas visando o equilíbrio espiritual, se não colocássemos tudo isso em prática. Portanto, a Maçonaria exige de cada um dos seus OObr .˙. mais do que estudo e dedicação, exige que pratiquemos aquilo que aprendemos.

Se um pedinte nos pede dinheiro, como MMaç.˙., temos a obrigação moral e espiritual de atender a esse pedido de esmola. Não sabemos se aquela moeda irá contribuir para aliviar um estômago vazio ou evitar que uma criança caia na perversidade por falta de escolha. A beneficência é uma obrigação irredutível do Maç.˙. 

Também os instrutores ou guias devem ter humildade e equilíbrio, caso contrário estão a ser desleais consigo e com os princípios que defendem. “Pobre daquele que se julga mestre e pensa ter sobre si a responsabilidade espiritual dos actos de todos aqueles que considera discípulos” O verdadeiro Mestre, está dentro de cada um de nós.

O juiz mais rigoroso e mais exigente deve ser a nossa própria consciência. Se não somos capazes de cumprir um juramento feito a nós próprios, como podemos esperar cumprir os juramentos feitos nas cerimónias solenes e perante os nossos IIr.˙.? 

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